sábado, setembro 09, 2006

Coffee and Cigarrettes

Entrava no café onde passava uma parte dos meus sonhos
Caminha rápido sem forçar o chão contra si
Sentou-se.
Em mim sobra apenas um espaço onde não distingo passado presente futuro
Sobra um espaço onde quero estar

Tirei o isqueiro do bolso
Pousei-o em cima da mesa do café e esperei
Olhei em volta à procura na esperança de a encontrar atrás do balcão
Parei o momento e forcei-me a respirar fundo quando ela entrou
Dirigiu-se a mim e pediu-me lume
Em cima da mesa lá estava à espera, ergui a mão e acendi-lhe o cigarro
Olhei-a e senti o corpo apertar
Virou-me costas e sentou-se na mesa ao lado.

E nesse momento o meu corpo não chegava
Quero-te
E não era um pensamento era uma força
Fumo mais um cigarro e desvio o olhar dela
Tento e desisto de tentar
Pego na mão dela e arrasto-a para mim

Era nítido no seu olhar que não me queria
Mas mesmo assim tentei e não desisti enquanto não lhe retirei o sabor amargo dos lábios
Beijei-lhe a mão que arrefeceu com o meu toque
Ofereci-lhe um instante para que o seu olhar a traísse
E dei-lhe a conhecer o desespero.

Já não queria esperar
Queria agora já neste momento e aqui
Não existia tempo e era isso que lhe dizia ao ouvido
Amanhã não existe agora quero-te!
Ele respirava de e para os seus cabelos depois no seu ouvido depois mais perto mais perto...
E nesse momento não pensava e não queria pensar.

Olhei o relógio pregado na parede do café
Eram 23horas, estava atrasado, tinha alguém à minha espera
Ela vacilou e olhou em redor para me dizer baixinho
Sou tua
Quero-te aqui e agora num espaço onde possa encaminhar a minha loucura
Baixinho mais uma vez....
Sou tua...

Eu sei
Disse sem pensar como sempre deve ser
Abracei-te contra mim sentia o teu corpo
O meu corpo
A tua boca
O tempo tinha parado
Não havia café nem pessoas e o fumo à nossa volta servia-nos de barreira imaginária
Linha do equador
Quero sair daqui contigo
Eu sei, disseste ainda mais baixo
Leva-me

As portas fecharam-se
Chovia lá fora,
Percorremos as ruas a correr até chegarmos a tua casa
Entrei atrás de ti e olhei-te a cintura, os braços longos cruzando-se no peito molhado
Rodaste a chave e encostei-te a um canto beijando-te sofregamente
Senti-te o coração e reuni todas as minhas forças para te tocar no rosto
Eras feita de pedaços de mim.

E ao mesmo tempo tudo o que me faltava
A minha mão no teu rosto devagar os teus olhos curiosos a curva perfeita do teu nariz a minha mão mais devagar os teus lábios...
E beijo-te de novo porque não tenho voz
Não preciso de voz
Só tu importas agora e eu sei que percebes pelo teu olhar
Estávamos à porta da tua casa quando te beijei o pescoço e as mãos e todo o espaço que separa a tua voz da tua voz

Deitei-te no meu peito
Suavemente disseste-me:
Diz-me o teu nome...
Não respondi, não quis e olhei-a
Beijei-a, trouxe-a de volta a mim e o seu doce perfume espalhou-se pelo ar
Reparei de novo nas horas, tinha alguém à minha espera
Arrumei o corpo, deixei-te sozinha sem nome
E corri até ao café onde um isqueiro me esperava para acender mais um cigarro.


Sara Almeida com M.Tiago Paixão


Lisboa 06.09.06



*Mais um texto escrito em colaboração com M.Tiago Paixão.

*Obrigada...

2 comentários:

m. tiago paixão disse...

...
não aceito esse agradecimento, não por não ser sincero mas, por não ser necessário. *

escrever contigo tem sido uma experiência muito especial, e por isso (e entro em contradição com o que disse atrás) - obrigado!
...

Maria disse...

A pedido de várias famílias, m. rocha aqui se encontra para comentar mais uma criação conjunta de s. alves almeida e m.tiago paixão (é giro isto das iniciais! : P.

Bom, voltemos à seriedade por breves instantes.

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Já disse à Sara, e nem sei bem como reproduzir de forma fiel o que lhe disse mas, em suma foi:

que é imperativo que continue a escrever assim e que se for com o senhor m. tiago muito melhor, o resultado é mais que bom!

O que fizeram e criaram através de uma situação banal é fenomenal, por isso, têm de continuar.

(Aquilo que eu disse à Sara quando o li da primeira vez está bem melhor que isto mas, de momento, é o que se arranja.)