segunda-feira, setembro 18, 2006

Clandestino

Algo surgiu na noite em que duas mãos se cruzaram entre si mesmas e dois corpos se presentearam com o amor.

Em todas as noites, de todos os dias, se sentavam no mesmo bar de Lisboa.
Tocavam-se discretamente com o olhar, trocavam palavras dentro de sim e conversavam com o corpo.
Um simples corredor os separava e dois copos vazios em cima das mesas pediam mais um pouco de moscatel.
Ele escrevia com o som das palavras a tocarem-lhe nos lábios e ela esperava, observando as paredes de um bar clandestino assinadas pelo tempo.
Anos se passaram, copos se beberam, cigarros se fumaram e eles continuaram, olhando-se e desesperando por um olhar que dissesse: “não quero estar só…”
Até ao dia em que o som de uma música a despertou, fechou os olhos ainda cega e ouviu a sua voz pela primeira vez.
Ele abriu o olhar e seguiu-a.
A música parou e enquanto o mundo voltava a acordar, beijaram-se junto ao fogo, partilharam o respirar do tempo e sentaram-se nesse bar clandestino onde se sentiram viver.

Sara

2 comentários:

m. tiago paixão disse...

devolvo em outra voz estas palavras para este texto...
"descalço
sobre um chão que queima
o corpo
o abraço que o tempo me dá".

clandestino.

*

delusions disse...

...e nos olhos a eterna música que os despertou e nos sentidos a presença um do outro, em cada recanto de um beijo...

adorei o texto...bjs*